Desde a década de 70, um economista chamado André Gorz, baseado nas teses do criador da Bioeconomia Nicholas Georgescu-Roegen, vem apostando que seria necessário um decrescimento econômico para que atingíssemos a sustentabilidade.
A tese do decrescimento baseia-se na hipótese de que a economia neoclássica – entendida como aumento constante do Produto Interno Bruto (PIB) – não ser sustentável para o ecossistema global. Esta ideia é oposta ao pensamento econômico dominante, segundo o qual a melhoria do nível de vida seria decorrência do crescimento do PIB e portanto, o aumento do valor da produção deveria ser um objetivo permanente da sociedade.
A questão principal, segundo os defensores do decrescimento é que os recursos naturais são limitados e portanto não existe crescimento infinito. A melhoria das condições de vida deve, portanto, ser obtida sem aumento do consumo, mudando-se o paradigma dominante.
Muitos compreenderam esta tese, tanto que, durante muitas décadas vem sendo proposto o Desenvolvimento Sustentável (tem posts anteriores falando sobre, procure pela tag Sustentabilidade): desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. Em outras palavras, o desenvolvimento sustentável é aquele que assegura um crescimento econômico viável, sem esgotar os recursos para o futuro, atuando de uma forma socialmente justa e ambientalmente correta.
No entanto, 50 anos após a tese do decrescimento econômico, o que aconteceu foi um aumento do PIB em 8x, e por outro lado a poluição ambiental e os problemas sociais também aumentaram, além do aumento da temperatura da atmosfera causando as mudanças climáticas e outros impactos nos serviços ecossistêmicos que suportam a vida humana no planeta Terra.
Entramos em 2020 com a maior certeza de que o modelo econômico atual é insustentável, e que medidas urgentes precisariam ser tomadas. Afinal, iniciamos a década da ação para atingir os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, entramos na década decisiva para conseguir frear o ritmo de aquecimento global antes de que seja tarde demais.
Apesar de muitos movimentos propondo mudanças e novas formas mais saudáveis de atingir o desenvolvimento sustentável, o ano de 2020 era esperado por muitos a tão retomada do crescimento econômico, como era o caso do Brasil.
Mesmo sabendo o que se têm de fazer, as grandes economias não pareciam querer abrir mãos do poder, dos lucros, crescimento e da competitividade em prol da Sustentabilidade.
Mas por ironia do destino, parece que a natureza sabendo que nós, humanos, não abriríamos as mãos do crescimento econômico, e que dificilmente conseguiríamos atingir o equilíbrio socioambiental para permitir que ela se regenerasse para continuar nos suprindo com os recursos renováveis e serviços ecossistêmicos, ela (natureza) decidiu frear todos, igualmente.
Através da antiga cultura de dominação homem-natureza, de superioridade homem-animal, um novo vírus surgiu, o Covid-19, e em um ritmo extremamente acelerado, parou o mundo.
De repente, obrigatoriamente atingimos um decrescimento econômico. E ao contrário do que estávamos acostumados, onde as decisões dos homens de poder não afetavam igualmente a todos, e estávamos acostumados uns terem mais do que outros, o Covid-19 não foi seletivo. Pela primeira vez todos estão sendo igualmente afetados. É claro que, no resultado final, os mais vulneráveis sairão muito mais impactados.
O Coronavírus chegou para dar fôlego ao Planeta Terra. É incrível como podemos ver a Regeneração da Natureza. O primeiro exemplo veio da China, após a publicação das imagens de satélite da NASA, com o antes e depois do isolamento e parada das indústrias, o índice de qualidade do ar melhorou significativamente. Depois as imagens do rio Veneza, na Itália, que voltou a ter água clarificada, e também imagens do céu da maior cidade da América Latina, São Paulo, onde muitos paulistanos não estavam acostumados a ver estrelas com frequência.
É claro que, não precisaríamos aprender desta forma, na dor e sofrimento. Milhares de pessoas estão morrendo e milhões perdendo empregos no mundo inteiro, além de muitas empresas que irão a falência. Mas, não aprendemos e/ou não quisemos fazer diferente ao longo das últimas décadas, mesmo sob tantos avisos dos cientistas. E mesmo que se tivéssemos um pouco mais conscientes e preventivos, não era garantido que não seríamos atingidos por esta pandemia. Afinal, é impossível ter o controle sobre esta grande teia de relações sociais e ecológicas.
O Coronavírus parece ser o novo dilúvio só que na época depois de Cristo. Um reseat ao nosso modo de vida, aos nossos valores. Nós estamos passando por uma grande transformação juntos, em escala planetária. Será necessário um grande recomeço, uma reconstrução, e agora mais do que nunca temos a chance de fazer diferente.
Durantes os últimos 2 anos eu tenho acompanhado e me especializado em novos modelos de se relacionar com o meio ambiente. Ao contrário da cultura atual ser de soma zero (ganha-perde), precisamos passar para uma cultura de soma não-zero (ganha-ganha) exigindo uma cultura de colaboração generalizada a fim de que a natureza também vença (ganha-ganha-ganha) e vença primeiro, afinal ela que é a provedora de toda abundância da qual dependemos. Para isso, é necessário agir como ela. Utilizar o exemplo dos processos naturais que não desperdiça nada, além de ser extremamente eficiente, a natureza é EFETIVA, faz da melhor forma possível o que precisa ser feito, gerando transformação, para levar de volta ao seu estado de equilíbrio.
Durante centenas de anos, o homem aprendeu a ciência, mas não muito de como utilizá-la. Os métodos de pensamentos fragmentados, reducionistas e mecanicistas já não cabem mais no ecossistema que vivemos. Diversos físicos e cientistas modernos vem apontando para uma nova realidade sistêmica e um mindset ecológico.
Além do propósito de trazer estes conceitos ecológicos para os processos a fim de atingir a Gestão Efetiva dos Aspectos Ambientais, a Mutação Sustentável tem a visão de ser um agente para disseminar essa nova cultura emergente, uma Cultura Regenerativa.
O desenvolvimento Regenerativo é a evolução do desenvolvimento Sustentável. Quando falamos em Sustentabilidade, significa manter o equilíbrio daquilo que existe do jeito que é para ser, natural e saudável para todos. Só que o que temos feito atualmente é a “Sustentabilidade” do que não pode ser sustentável, do desequilíbrio. Agora, primeiramente temos que regenerar e dar a condição de voltar para o estado de equilíbrio dinâmico natural, para posteriormente sim, apoiar-se no desenvolvimento sustentável.
Já existem muitos movimentos com novas formas de pensar a Sustentabilidade e atingir a Regeneração, como por exemplo a Economia Circular, a Bioeconomia, Economia Colaborativa, dentre outros, mas eram vistos por muitos como: “isso não é viável”, “não é possível”, “não funciona”, “é muito (…)ismo”, simplesmente porque muda vários paradigmas, tiram da zona de conforto e por isso, é pouco difundido e discutido. Porém, diante da pandemia Coronavírus, estes novos movimentos precisam ser intensificados e considerados para a reconstruir a sociedade e a economia de uma forma mais justa e saudável para todos.
Ao longo dos próximos dias irei compartilhar nas redes da Mutação Sustentável quais ensinamentos a crise do Coronavírus está nos trazendo que está relacionado com modelos e conceitos existentes, novos paradigmas que, devem se manter para um recomeço Regenerativo transformando as nossas relações, modo de vida e os nossos negócios.
Por Sabrina Corrêa
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